Carta aberta de independência
5 jul 2022
Hoje é dia 5 de Julho, o dia seguinte da comemoração da independência dos Estados Unidos. Os excessos da festa limitam um pouco a minha capacidade cognitiva para formular ideias. Mas tenho consciência de que não temos muito o que comemorar.
Independência, segundo o dicionário Oxford, é “o estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade com relação a alguém ou algo”.
Os últimos acontecimentos tanto no país em que vivo, quanto no Brasil, me preocupam. Especialmente porque, quando falamos em perder direitos, a gente trata de esferas menos poderosas da sociedade. Mulheres e imigrantes, por exemplo.
Eu sou uma mulher, lésbica e imigrante. Quando movimentos conservadores ganham força, pessoas como eu perdem suas independências. Nesses momentos, me sinto desprotegida e acredito que preciso estar nas ruas. Assim como estive nas marchas do orgulho LGBTQ+, no último final de semana, para reivindicar a minha existência.
Passada a festa, os vinhos e os fogos de artifício, precisamos reconhecer que algumas pessoas não acreditam no valor de vidas como a minha. Mesmo se beneficiando da nossa existência. Muito além de “grupos”, somos indivíduos. Somos os artistas que emocionam nas noites de domingo, os designers que facilitam a vida no cotidiano, os desenvolvedores que resolvem problemas complexos, os músicos, matemáticos, garçons, etc. Completamos, como suor e dedicação, toda uma cadeia complexa de trabalhadores que pagam impostos, votam e contribuem para os avanços da nação.
Não podemos falar em independência, quando uma mulher não é dona do próprio corpo, votos legítimos são questionados e casamentos são ameaçados.
Aos meus, quero reforçar que muitas vidas estão em risco quando elegemos alguém que questiona o direito básico de existir. Que a gente lembre disso em outubro.
Boa semana.