A felicidade é agora

28 jun 2022

Durante anos da minha adolescência, eu e a minha amiga-irmã costumávamos assistir a peça “Cócegas” no Youtube por horas. Até hoje, a gente conhece todas as falas e basta a menção de Peruíbe para que o badauê comece no nosso chat. 

Provavelmente, eu e a minha amiga nunca mais teremos a oportunidade de sentar no sofá, numa tarde de terça-feira, para assistir à peça Cócegas. Esse poderia ser um texto melancólico, mas não é. Não estamos interessadas em reviver o passado. 

Naquele tempo, eu não queria viver outras coisas, mas nem sempre foi assim. Por muitos anos, tive a tendência de deixar a felicidade para depois. Talvez por achar que não merecesse ser feliz, talvez por achar que, naquele momento, não estava cumprindo os requisitos. Como se a felicidade fosse um álbum de figurinhas que eu era incapaz de completar.

Achei que a felicidade viria depois

Não cumprir todos os requisitos da minha “lista da felicidade” era ficar presa num ciclo interminável. O lema “quando eu tiver isso, eu vou ser feliz”, é um velho conhecido e um motor de ansiedade. Tenho compreendido que a tal lista foi criada por mim, pressionada por questões sociais profundas, mas é dela que nasce minha tendência para adiar a felicidade.

Vou trazer meu ponto com mais clareza, com um exemplo. Milhões de mulheres, no mundo todo, têm convicção de que só podem usar biquíni e aproveitar verão quando estiverem “magras”. Porém, enquanto buscamos o “corpo ideal”, não vivemos o verão atual. O “mínimo necessário exigido para a felicidade” varia dependendo da sua idade, trabalho, situação econômica, cidade onde você mora etc. Deveria colocar tudo nesse texto entre aspas, porque estou tratando de muitas camadas de imposições externas que desconsideram o principal elemento da equação social: a pessoa.

No último final de semana, comemoramos em Nova York, o orgulho LGBTQ+. Tive o discernimento de estar presente em todos os eventos que me propus a ir. Sábado, fui sozinha a Dyke March. Me senti um pouco estranha, mas estava lá. Domingo, debaixo de um sol de 30ºC, fui à Queer Liberation March. Minha ideia era tomar uns drinks depois, mas o calor estava intenso. Então, resolvi ouvir o meu corpo e voltar para casa. Fui feliz durante o evento, o que facilitou a decisão de terminar o programa antes do imaginado. 

Lembro que, quando fiz intercâmbio, tinha amigos que saíam para passear todos os dias. Nosso professor dizia que os alunos conheciam mais a cidade do que ele, um local. Eu não era tão aventureira. Não tinha tanto dinheiro para gastar e preferia viver “como local”, achando que meu tempo naquele lugar era infinito.

Viver no presente é estar em paz no futuro

Ainda hoje, anoto lugares para ir enquanto passeio pelas ruas, vejo vitrines ou passo por restaurantes bonitos. A intenção de ter uma lista “quero ir” é boa, mas a vida é agora, não depois. 

Não consigo fazer tudo que tem disponível em Nova York, mas é possível ter mais momentos na caixinha “vida bem aproveitada” do que na “quero visitar”. E nem preciso me esforçar tanto pra viver o presente. Basta entrar nas lojas, me interessar mais sobre a cultura de onde eu vivo, conversar com os vendedores, fazer perguntas. 

Quinze anos atrás, eu e minha amiga-irmã não queríamos “guardar” a peça para assistir em momentos especiais. E fomos tão felizes que, a nostalgia hoje, ao invés de ser uma fuga, afaga nossas conversas com piadas enviadas em tardes de terça-feira. 

A verdade é: a gente não sabe quando teremos a próxima oportunidade de fazer o que estamos fazendo agora. E estou compreendendo que aproveitar o presente é mais legal do que imaginar como seria viver, nesse momento, se eu tivesse (cole aqui sua lista de desejos)… 

Tenha coragem para realizar seus sonhos!

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