Quem me acompanha no Instagram, sabe que no último final de semana fiz um tour pelas mansões da “era de ouro” de Nova York. O passeio se chama “Gilded Age” em alusão a série da HBO. O roteiro é dos mesmos criadores de Downton Abbey, que eu gosto mais. 

O conflito da trama é o desejo de pertencimento dos “novos ricos” na tradicional sociedade nova-iorquina. Fiz o tour com curiosidade, conheço pouco da história da cidade e nunca ouvi falar de alguns nomes citados pelo guia. Mesmo sendo fascinada por história, o que mais me chamou atenção, foi a vida de um empresário que chegou à cidade pobre e construiu grande fortuna. 

Sinceramente, venho pensando sobre os lugares que a gente ocupa na sociedade há muito tempo. No trailer da série, uma personagem diz: tudo é possível em Nova York. Até escrevi algo muito parecido no meu livro, mas quais são as condições dessas possibilidades? Por que os “novos ricos” precisam tanto se sentir pertencentes? 

Sucesso depende de muitos fatores

Histórias de superação rondam o imaginário coletivo sem que a gente considere todos os fatores da equação. Normalmente, a gente ignora que outras pessoas estiveram envolvidas no sucesso daquele indivíduo. E, claro, esquecemos completamente das narrativas parecidas que tiveram desfechos bem diferentes. Chegar em uma cidade sem conhecer ninguém não é receita, nem garantia, para sucesso. Pode, inclusive, gerar consequências opostas ao esperado. 

Nós, humanos, evoluímos em grupo. Foi vivendo em tribos que juntamos forças para derrotar inimigos em comum. Estudos mostram que estamos na era mais solitária de toda a nossa história. Estamos desconectados do grupo, o que gera depressão e ansiedade. Qualquer relação com a quantidade de antidepressivos vendidos anualmente, não é mera coincidência.

Para ser “quem você quiser”, você precisa de mais do que um simples desejo. Querer é só um dos fatores. Mudar a realidade de uma pessoa exige uma comunidade. Conseguir algo depende da sua vontade, e do apoio de pessoas dispostas a trabalhar para garantir a segurança mental necessária para que você alcance seus objetivos. 

Querer é como se fosse o começo de uma estrada. Para sair do ponto A e chegar ao B, você precisa de ferramentas essenciais, como veículo, asfalto, conhecimento, e outros elementos. Talvez, você até consiga fazer a travessia sem nada disso, mas espere um caminho mais turbulento e doloroso.

Pertencer é essencial

Segundo estudos do escritor Johann Hari, estamos (como sociedade) mais deprimidos e ansiosos do que nunca porque somos ensinados a valorizar a individualidade em oposição ao coletivo, que é o nosso instinto. Psicologicamente, precisamos sentir que pertencemos para atravessar a vida mais feliz. 

Conquistas são consequências coletivas, mesmo que o troféu seja entregue a apenas uma pessoa. Ser “o que você quiser” só é possível através de uma combinação de fatores, entre eles, o apoio de quem está à sua volta. 

Ser estrangeiro, em essência, é não pertencer. Busco a minha turma desde que cheguei aos Estados Unidos. Encontrei amigos e tive algumas decepções. 

Até bem pouco tempo, não entendia porquê continuava a me colocar em situações difíceis para conhecer pessoas novas. Agora, acho que encontrei um sentido. – Eu gosto muito de saber o motivo das coisas. Acredito ser essencial entender de onde parte a minha frustração e conhecer a lógica por trás das minhas ações. 

Escrevo o que senti quando mudei pela primeira vez e o que entendi do TED Talk do escritor Johann: é impossível ser “quem eu quiser” estando isolada e desconectada do que está em volta. Dos muitos fatores necessários para ter uma história de sucesso, um dos poucos que está ao meu alcance, é estar aberta a criar e nutrir relações saudáveis.

Saber pode não ser importante para você, mas eu acho que faz tudo parecer mais alcançável.

Tenha coragem para realizar seus sonhos!