Quando a gente vira adulto? Boletos não chegam com diploma.
2 dez 2021
Quando a gente vira adulto? Quando uma pessoa descobre que virou adulta? Talvez eu esteja um pouco velha pra esse tipo de pergunta, mas é estranho, não é? Se ver como um ser humano 100% funcional. Sem precisar dos seus pais pra nada. Eu (e você também) sou totalmente responsável por absolutamente tudo que faço no mundo. Eu não quis criar pânico, mas eu tô panicando um pouco.
Eu tenho uma amiga que usa o mesmo tênis Converse Chuck-Taylor All Star desde que a gente tem 15 anos. Quando o tênis dela fica velho, ela compra um novo exatamente igual ao último. Até a Converse Chuck-Taylor All Star passou por uma reformulação de marca e agora usa 500 nomes pro tênis (mais batido do mundo) que, na minha época, só chamava All-Star. Minha amiga está há 17 anos sem reformular o gosto dela pra tênis. Eu acho isso a coisa mais adulta que alguém pode fazer.
Não tenho um tênis favorito até hoje. Eu tive fases, mas mudei tanto que nem me lembro porque gostava de All-Star na adolescência. Eu sei que adolescentes estão descobrindo o mundo, testando tudo o mais rápido possível pra decidir as coisas que vão ficar pro resto da vida.
Quando a gente vira adulto?
Às vezes, me sinto meio adolescente descobrindo todo um mundo novo quando preciso comprar tênis, roupa ou qualquer coisa, na verdade. Eu não tenho nada favorito. Talvez eu tenha uma cor favorita, mas é isso! Não tenho tênis, bolsas, revistas, restaurantes ou lugares favoritos. Minha coisa favorita de fazer é mudar de ideia.
Talvez, mudar seja a minha coisa favorita
Ter mudado de cidade tantas vezes não me ajudou a estabelecer coisas favoritas. Eu tive que me adaptar e cada cidade tem suas próprias demandas. Como alguém tem um sapato favorito morando em Nova York (com temperaturas que variam entre -20ºC e +40ºC em 12 meses)? Tem quem use bota Timberland o ano todo, mas eu sou mais do tipo Sex And The City. Só que é impossível ser SATC morando em Nova York. Na vida real, a gente anda quilômetros por dia e usa o metrô.
Esse ano, eu li um livro da Sheila Heti intitulado de algo que pode ser traduzido assim “Como Uma Pessoa Deve Ser”. Claro que a autora não tem uma resposta pra pergunta. Ninguém tem. A gente segue padrões e regras com a esperança de pertencer à sociedade, às nossas comunidades e às nossas próprias casas.
Tem quem não siga as regras. Tem quem escolha as regras que vai seguir e quem use as regras, mas não siga. Regras tem suas próprias variáveis. Cansativo, né?
Regras são uma maneira prática de descobrir como ser adulto
Aprenda as regras. Se você não sabe o que fazer da sua vida, vá à escola, faça faculdade, vá trabalhar. São regras justas. Você pode tentar entender quem você é enquanto faz tudo isso. Talvez você encontre bons professores e mentores no caminho e voilà! Você descobriu quem você é! Talvez você não tenha tanta sorte e tudo bem também.
É normal que a gente se perca; que a gente nunca tenha um modelo de tênis favorito; que a gente sinta raiva ou se sinta sozinha. Às vezes, a gente só precisa aceitar que mudar é a única coisa que fica.
Mudar é a única coisa que fica
O mundo é um lugar cheio de condutas, mas como você deveria ser, é uma regra que só pode definir. Essa é uma tarefa especialmente difícil porque a gente passa a vida tentando satisfazer as expectativas dos nossos pais, amigos, sociedade, indústrias e as nossas próprias, claro.
Pra não terminar esse texto sem te deixar nada, vou dividir um segredo, que talvez seja a única coisa que eu saiba sobre como uma pessoa deveria ser, a gente não é uma coisa só. Somos uma combinação de DNA, história, conhecimento e desejos; somos moldados todos os dias pela publicidade, notícias, trabalho e amigos. Nós somos a soma de tudo que vivemos diariamente e a subtração de tudo que a gente não é.