Quantos “nãos” você aguenta?

5 out 2021

Glennon Doyle escreveu “sofrimento é o que acontece quando você tenta evitar a dor”. Essa frase tem tantas camadas de sabedoria que eu nem sei como começar a escrever sobre, mas vou tentar discursar sobre quantos “nãos” você aguenta.

Conquistas estão diretamente relacionadas com a quantidade de dor que você consegue aguentar

Eu tive uma epifania outro dia. Eu entendi, talvez pela primeira vez na minha vida, que conquistas estão diretamente relacionadas com a quantidade de dor que você consegue aguentar. Se você procurar a carreira de qualquer escritor (ou atores, jornalistas, engenheiros, médicos, etc), você vai encontrar rejeição no caminho.

Harry Potter foi rejeitado 12 vezes antes de despertar o mínimo de interesse numa editora. A autora, J.K. Rowling, é só um dos milhares exemplos que temos no mundo. Alguns autores nunca vão ser publicados por motivos que não consigo numerar agora, mas alguns nunca serão publicados porque não conseguem lidar com a dor. Ser rejeitado dói e você ainda precisa aceitar a rejeição com uma certa graça porque você vai ter que voltar e mostrar seu trabalho no mesmo lugar que te rejeitou outrora. E não adianta ficar com pena de si ou querer se “vingar”. O não precisa ser encarado com dignidade.

Eu não acho que carreiras não criativas são mais fáceis. Cada pessoa no mundo encara desafios muito profundos. É muito difícil a gente entender nossos próprios problemas. Imagina se colocar no lugar do outro?

Eu, por exemplo, sou uma escritora brasileira morando em Nova York. Sinto medo o tempo todo e eu nem sei do que. Eu só sinto medo de sair e falar com as pessoas no mundo real e odeio a ideia de deixar a minha cabeça. Eu gosto de escrever e eu gosto de roteiro. Eu acho divina a capacidade de organizar ideias. Quando alguém me pergunta quem eu sou (ou melhor “o que você faz?”), me dá um branco. Como alguém pode responder esse tipo de pergunta sem um roteiro? Como que se improvisa uma resposta pra uma pergunta tão filosófica quanto essa?

Conhecer pessoas é um processo de ansiedade

Nos Estados Unidos, as pessoas têm um roteiro pra essas perguntas. Fazer network é algo que se aprende desde cedo por aqui, diferente do Brasil. Me dá um pouco de ansiedade quando eu tenho que interagir com o mundo, aí eu fico parecendo uma idiota ou uma chata pretensiosa. Às vezes, se eu tô bebendo, as coisas ficam mais leves. Esse é o sofrimento ao qual a Glennon Doyle se refere. O sofrimento de se apagar com bebidas alcoólicas pra não encarar a dor de ser rejeitada; mas evitar a rejeição é também evitar viver com todo seu potencial. A gente nunca teria Harry Potter se a J.K. Rowling tivesse evitado a rejeição e eu acho que a minha vida é melhor com HP no mundo. Obrigada, Rowling! E obrigada, Glennon, por ter colocado um fim no seu sofrimento.

A gente precisa aprender a ter coragem pra encarar rejeições

O que eu quero dizer, e eu amo que agora defini meu estilo como “ensaio” e não preciso mais me prender a forma, só ao estilo, e eu posso divagar o quanto eu quiser porque é isso que os ensaístas fazem. Eu quero dizer que a gente não consegue viver de verdade a menos que a gente tenha a coragem de encarar a dor da rejeição. Eu até poderia ser um pouco mais didática e te dizer especificamente que o seu sucesso depende da quantidade de “nãos” que você consegue ouvir, mas eu não vou fazer isso. Eu respeito a sua inteligência e eu sei que você não quer que eu te dê essa informação mastigada.

Eu acho difícil renascer com graça depois de uma rejeição. Eu sempre coloco a culpa da minha baixa auto-estima nos meus pais, mas já que a gente tá falando de sucesso, preciso te dizer que culpar os outros é coisa de “perdedor”. Minha esposa diz que eu já tenho idade pra assumir minha autoestima, mas como eu faço isso e justifico os períodos que preciso me ausentar de mim?

Tenha coragem para realizar seus sonhos!

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